Os RPOriginalz, um grupo de dança da Póvoa de Varzim, foram dos poucos que se atraveram a enfrentar as luzes do palco em plena pandemia. Inseridos na escola de dança RP Dancers, o responsável pelo grupo, Renato Garcia, conta como foi todo o processo desde a adaptação dos treinos à pandemia até ao culminar do espetáculo, que se realizou nos passados dias 29 e 30 de dezembro.
1. Enquanto grupo, como foi a paragem, em março, devido à quarentena obrigatória? Fizeram treinos online?
Sobre a paragem, inicialmente foi tranquilo, mas depois tornou-se bastante complicado porque não fizemos treinos online, não tínhamos um propósito. Não sabíamos muito bem quanto tempo ia durar e o quê que iríamos poder fazer.
2. E quando regressaram aos treinos presenciais, quais as medidas que tiveram de adotar?
Quando regressámos aos treinos presenciais, tomámos todas as medidas que eram obrigatórias. Tentámos não estar perto uns dos outros, pelo menos não sem máscara. Há situações na dança que implicam a aproximação, o toque. Por isso, quando sabíamos que ia acontecer algo desse género, colocávamos sempre a máscara.
3. Nesta vertente de realizar treinos em plena pandemia, quais foram as maiores dificuldades que sentiram?
Quando estávamos confinados, o nosso foco foi manter as pessoas focadas e motivadas, porque muitas perderam a vontade de o fazer (treinar), porque online não era a mesma coisa. Dança online não funciona. Dança é muito social, pelo que essa paragem prejudicou-nos bastante.
Quando voltámos, foi uma questão de nos habituarmos às novas regras, que penso ter sido simples. O pior foi mesmo ter de usar máscara durante as aulas, porque é difícil ter de fazer exercício de máscara, mas era o que tinha de ser.
4. E quanto aos encarregados de educação, foram recetivos às adaptações ou demonstraram-se receosos?
A maior parte dos encarregados de educação foi recetiva. Óbvio que houve muita gente que desistiu, há ainda muita gente que não pode treinar porque os pais não permitem, tendo em conta a conjuntura atual. Mas penso que a maior parte continua a vir, os pais apoiam, porque, na verdade, as coisas têm de continuar, e a maior parte dos pais sabe disso.
5. Quanto ao espetáculo dos dias 29 e 30 de dezembro, porque é que decidiram realizá-lo?
Decidimos realizar este espetáculo em plena pandemia em primeiro lugar porque já tínhamos cancelado ainda antes disto tudo. Decidimos, então, realizá-lo porque sentimos que precisávamos de fazer algo juntos, o grupo estava parado e precisava de ganhar uma motivação para continuar juntos. Não é que nos fossemos separar, mas não estava a fazer sentido estarmos parados. Ao mesmo tempo, achamos que a realização do espetáculo nesta altura era importante para as pessoas que foram assistir desanuviarem, e não continuarem com o sentimento de que está tudo perdido.
Ver o espetáculo acredito que foi extremamente positivo para muita gente porque saiu de casa, fez algo diferente, viu algo diferente. Estávamos todos a precisar disso.
6. Para a concretização do espetáculo, quais foram os maiores entraves e de que forma é que os conseguiram ultrapassar?
Os maiores entraves à realização foram os horários do grupo, porque temos pessoas que estudam, outras que trabalham, e tivemos de conjugar tudo com o recolher obrigatório das 23h. Foi difícil porque estávamos habituados a treinar, na maioria das vezes, durante a noite. Não poder treinar ao fim de semana foi muito complicado também, porque não haviam horários para conseguirmos treinar todos juntos.
A nossa solução foi arranjar uma casa e ficarmos lá a treinar durante 4 dias seguidos. Fazer um milagre, portanto.
7. Como correu o espetáculo? Quais foram as reações do público?
Penso que o espetáculo correu bastante bem, as pessoas gostaram muito e foi bom. Foi diferente porque não tivemos contacto com o público no final, como é habitual. As pessoas gostaram muito e ficaram felizes por, não só poder voltar a ver-nos a atuar, mas também por ir a um espetáculo.
O espetáculo correu muito bem, mas podia ter corrido melhor. Se não tivesse havido o problema dos horários, nós teríamos tido mais tempo para treinar mais, para ter a coreografia mais limpa, o grupo mais coeso, coisa que não pôde acontecer porque não houve mesmo mais hipóteses de treino do que as que tivemos.
8. Na vossa opinião, sentem que a cultura e a arte, especialmente a dança, foi uma parte esquecida durante a pandemia?
Eu não acho que a dança tenha sido esquecida. Acho que a arte e a cultura foram bem lembradas durante o confinamento porque foi a arte e a cultura que salvaram as pessoas do aborrecimento e receio que todos sentíamos.
Mal saímos de casa, a cultura, a arte, a dança, fomos logo esquecidos, logo postas de parte. É um bocado triste porque a maior parte das pessoas que conheço que estão no mundo da arte está a passar por enormes dificuldades porque não há ajudas, não há apoios. As que existem são quase “gozo”.
9. Quais os planos para o futuro, especialmente agora com a mudança de ano? Quais as ambições para 2021?
Neste momento, acho que não existem grandes planos para o futuro. Acho que o plano agora é manter as coisas como estão, não fechar a escola, é manter o trabalho e arranjar mais trabalho. Acho que este é o único plano que temos para o futuro. E desejar que as coisas voltem ao normal para, aí sim, pensarmos num futuro próspero, um futuro com futuro.
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