A 28ª edição do festival internacional de cinema Curtas, em Vila do Conde, aconteceu três meses após as datas habituais, motivado pela vontade de o realizar no formato presencial. Entre a diminuição no número de lugares em sala, até aos desinfetantes e máscaras, o Ângulo acompanhou de perto a realização do festival num ano marcado pela pandemia.
“Um ano especial como este” implica um Curtas diferente. Quem o diz é Nuno Rodrigues, membro da Direção Artística e Programação do festival que, este ano, como tantos outros projetos, se viu a braços com uma situação imprevista: a COVID-19. No entanto, uma coisa ficou certa para a direção logo nas primeiras semanas da pandemia: “tínhamos de alterar a data, porque queríamos privilegiar e defender a ideia de um festival que, acima de tudo, tinha de acontecer de forma presencial”.
No aguardado encontro do público com a sala de cinema, uma das prioridades foi cumprir todas as condições de segurança. Assim, a obrigatoriedade do uso de máscara nas salas de cinema, a prévia desinfeção de mãos antes e depois da sessão, contando ainda o Teatro Municipal de Vila do Conde com uma máquina de desinfeção de roupa e medição de temperatura, foram algumas das regras impostas para uma possível realização do festival no tão pretendido formato presencial.
No entanto, houve sacrifícios que tiveram de ser feitos, sendo um deles a diminuição do número de público em sala. Para contornar esta situação, houve novidades nesta 28º edição que podem, inclusive, passar para as próximas: a Competição Nacional do festival estendeu-se a mais cidades, nomeadamente ao Porto, no Cinema Trindade, a Lisboa, no Cinema Ideal, e em Faro, no auditório IPDJ. Outra das grandes novidades deste ano foi a adoção do formato Video On Demand (VoD), onde foram disponibilizados 150 dos 261 filmes em exibição e que vai ficar ativa até ao final deste mês de outubro.
Um cheirinho de Vila do Conde no cinema Trindade
A passagem do festival de curtas metragens pelo Porto trouxe novidades ambivalentes. Quem conta é Américo Santos, responsável pela programação do Cinema Trindade, que caracteriza esta experiência como “muito interessante”. Sendo que as curtas-metragens não fazem parte da habitual programação do cinema tripeiro, esta extensão transformou-se numa “proposta inovadora, sendo uma oportunidade quase única para mostrar curtas-metragens no Porto, de uma forma bastante concentrada, fazendo um excelente panorama da nova produção portuguesa, dos novos cineastas”. Com isto, “julgamos entrar aqui numa faixa também diferente, chegar a um público mais alargado”, remata.
Quanto ao público, a descentralização foi aprovada. No caso de Marco Gentil, 26 anos, presente na sessão de quinta-feira, dia 8, foi a sua primeira interação com o festival e gostou tanto que no dia seguinte acabou por voltar, desta vez acompanhado por um amigo. Foi a passagem para o Porto que motivou este encontro, tornando-o fã: “se calhar [para o ano] até fazia a viagem até Vila do Conde só para ir ver [os filmes]”, concluiu.
Mas não foram só os novos espectadores do festival que ficaram satisfeitos com a possibilidade de ver o festival no Porto. No caso de Diana Monteiro, 35 anos, residente em Santa Maria da Feira, costumava todos os anos marcar presença em, pelo menos, uma sessão do festival. Este ano, com a possibilidade de assistir no Porto, nem pensou duas vezes: “Para mim, pelo menos, é muito mais benéfica, fica-me mais perto do que ir a Vila do Conde”, afirma. Já para Carla Venâncio, 41 anos, residente no Porto, a ida ao Curtas tinha sido “muito encantadora”, mas já lá iam um par de anos. Este ano, quando se deparou com a possibilidade de voltar ao festival, agora bem mais perto de casa, não deixou de marcar presença. Quanto ao próximo ano, espera que continue nestes moldes: “se for para ir a Vila do Conde, não vou”, declara.
Apesar da vontade do público, a extensão permanente do festival para o Porto ainda é uma questão “prematura”, assegura Américo Santos. Porém, não diz que não. Quanto ao próximo ano, ainda não dá certezas, mas garante que, “da parte do Trindade, há toda uma boa vontade de trazer este tipo de iniciativas”, que classifica como “inovadoras”. Até lá, afirma que a experiência vai ser avaliada pelo Cinema Trindade, mas a decisão cabe também à direção do festival vila-condense. “Teríamos toda a abertura em receber o Curtas no próximo ano, se esse for o desejo do Curtas”, termina.
Cineasta vietnamita é o grande vencedor
Numa cerimónia de encerramento com apertadas medidas de segurança, o Festival Internacional de Cinema Curtas Vila do Conde encerrou no domingo, dia 11, com a entrega de prémios nas categorias competitivas. A pandemia não permitiu a presença da maioria dos realizadores, sobretudo os estrangeiros. Mas todos estiveram presentes a partir de mensagens gravadas em vídeo.
“O Rio Invisível”, do vietnamita Pham Ngoc Lân, foi considerado o melhor filme da competição internacional, levando para casa o Grande Prémio no valor de 2000 euros. Tanto a realização como a produção e argumento do filme são da autoria do cineasta de 34 anos, que mostrou o desejo de visitar Portugal e o festival nos próximos tempos, agradecendo. Ainda no panorama internacional, o Prémio do Público foi atribuído a “A Anatomia da Tristeza”, de Theodore Ushev, que conseguiu obter a melhor média de votação dos espectadores.
Quanto à competição nacional, sendo um dos lauréis mais importantes do festival, a ocupar o primeiro lugar no pódio, com o prémio de Melhor Filme, esteve “Noite Turva”, de Diogo Salgado. Apesar de ser a estreia do realizador no festival, a obra mereceu o elogio do júri que a caracterizou como uma “visão poética que nos faz mergulhar no mundo turvo esculpido por detalhes e profunda essência”. Sandro Aguilar, com a sua obra “Armour”, arrecadou o prémio de Melhor Realizador, numa realização vista pelo júri como “exímia”. Um filme-experiência que procurou explorar a potência da paisagem e da forma como ela nos fala do mundo, é a mais recente obra do experiente realizador que, no momento de agradecimentos, os deixou à esposa e aos dois filhos, que ajudaram na realização da obra. A terminar a secção, a escolha do público caiu sobre “O Nosso Reino”, de Luís Costa, obra baseada no romance homónimo de Valter Hugo Mãe.
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