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Foto do escritorAlexsyane Silva

A tristeza de uma vida que é só uma

Quando criança, eu amava aquela saga sobre os vampiros que brilham. Hoje, a saga é vítima de muito hate de um público que não vê sentido em vampiros tão diferentes do Drácula. Pois bem, não é sobre tradições mitológicas, suas quebras e reflexos na atualidade que vim falar aqui. É que, quando eu amava a tal saga, ficava imaginando quão incrível seria viver tanto tempo – e poder ser tantos seres.


A vida é só uma. A frase é clichê, eu sei. Mas em mim, cai profunda e significativamente. Dizem que a explicação é a minha geração. Eu me confundo um pouco nos rótulos, mas enquanto pesquisava, localizei-me na Geração Z. Tentando sempre quebrar estereótipos, a geração que se encaixa em várias personalidades – é punk pela manhã enquanto relembra as mazelas do mundo, engravatada na hora do trabalho enquanto contribui com o capitalismo e hippie quando colhe os legumes no quintal de casa para fazer a janta vegana daquela noite. Eu nunca aceitei mesmo o fato de que precisamos ser uma coisa só.


Hoje à tarde, enquanto pulava do meu funk brasileiro para escutar um bom Bocelli, percebi mais uma vez que não podia aceitar que a mim cabia ter que pertencer a apenas uma personalidade. E que disparate isso seria quando nem sempre somos nós mesmos! Se estou tão mal humorada pela manhã, de fato não sou a mesma simpatia que encontro após a rotina de yoga e budismo, nem consigo reconhecer a minha própria rabugice. Posso ser uma chefe incrivelmente dura, mas uma tia molíssima de coração e uma amante exageradamente romântica. Não somos mesmo tão complexos?


Na realidade, reconhecer a nossa complexidade também nos ajuda a julgar menos o próximo e entender mais as facetas de pessoas que agem de formas diferentes das quais estabelecemos como certas. Eu leio muitos livros porque quero viver em muitos mundos, assisto muitos filmes porque quero olhar por muitos olhos. Não finalizo em uma temática, gênero ou tipo. Se a vida é só uma, não posso limitar-me a um só sabor de sorvete. Sempre que vou à lanchonete, sigo com aquela mania de pedir os gostos que nunca provei antes.


Ora, a complicação cresce quando eu também não quero pertencer ao mesmo país, e ainda mais quando não quero ter sempre a mesma profissão. Infelizmente, ainda não é possível fazer todas as graduações que eu desejei. A geração é mesmo de freelancers, viajantes e inquietos – mas a vida continua sendo de fato só uma. E o meu ser é mesmo dessa geração.


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