As restrições da DGS e do próprio Governo não bastaram para impedir a aglomeração de centenas de pessoas em Lisboa. A manifestação é fruto de um dos vários movimentos surgidos nos últimos meses e que negam a gravidade da pandemia.
Um dia depois da Assembleia da República aprovar o uso de máscara obrigatório em espaços públicos, centenas de pessoas reuniram-se, no passado sábado, no Rossio para contestar as medidas do Governo para a prevenção do contágio do novo coronavírus. A manifestação, organizada pelo grupo Verdade Inconveniente no Facebook, ficou marcada pela ausência de máscaras e de distanciamento social.
As críticas às restrições do Governo não se ficam pelas máscaras. Em declarações à Lusa, Gonçalo Martins, um dos organizadores da manifestação, garante que a posição do grupo “não é ser contra a utilização das máscaras, é ser contra as medidas que, na maior parte dos casos, são completamente descabidas, porque não têm eficácia”.
Entre estas medidas ditas ineficazes, encontra-se o recente decreto de estado de calamidade, que, em manifesto, é descrito pelo Verdade Inconveniente como “uma premissa perigosa para os nossos direitos e liberdades”. O grupo chega até a dizer que este marca “o caminho rumo à ditadura”.
Quanto ao possível contágio entre manifestantes, Gonçalo Martins não se mostra preocupado. “A probabilidade que existe de alguém aqui contrair a doença é muito baixa”, afirma, até porque “tendo em conta os dados que foram analisados e estão disponíveis, só uma pequena percentagem poderá, eventualmente, precisar de tratamento hospitalar e ainda uma mais pequena de tratamento em unidades de cuidados intensivos”.
O grupo organizou um outro evento para as 12 horas deste sábado, chamado “Protesto pela Liberdade: Estado de Emergência não é Solução!”. Na descrição da manifestação, a Verdade Inconveniente assegura que as medidas do governo português “estão a destruir o tecido social, económico, e a causar uma cisão massiva entre os portugueses, que em nada abona à paz”.
O fenómeno das páginas negacionistas
Desde março que proliferam nas redes sociais, principalmente no Facebook, as páginas e grupos contra as medidas impostas relativamente à pandemia. Nesta lista, à Verdade Inconveniente, junta-se o Despertar Portugal, Médicos pela Verdade ou Jornalistas pela Verdade. A premissa de todas as páginas é a mesma: acordar os “adormecidos” para a verdade e o chamado “lado oculto” da pandemia.
O problema? A disseminação de desinformação e fake news no seio destes grupos. Desde a desvalorização da gravidade da Covid-19 até à posição anti-máscaras e testes PCR, as afirmações e publicações destas páginas são difundidas todos os dias por todo o Facebook, e já mereceram a atenção de órgãos superiores.
Na semana passada, o jornal Público avançou que a Ordem dos Médicos já abriu processos disciplinares a sete profissionais de saúde inseridos no movimento Médicos pela Verdade, e que a Ordem dos Psicólogos está também a analisar a participação de psicólogos na página. Apesar de reunir médicos de várias especialidades, os Médicos pela Verdade não incluem especialistas em saúde pública ou infeciologia.
É de salientar também que algumas das publicações dos Médicos pela Verdade foram sinalizadas pelo Facebook como informação falsa. Isto significa que o conteúdo não é bloqueado, mas sim apresentado ao utilizador como um aviso com duas opções em forma de botão: ver a publicação original ou ver as razões pelas quais a rede social classifica a informação como falsa.
A maior preocupação relativa a estes grupos é, precisamente, a propagação de informação falsa que pode por em risco a saúde pública. Relembre-se que, segundo o Artigo 283.º do Código Penal português, é crime “propagar doença contagiosa”.
As convicções dos grupos negacionistas como os Médicos pela Verdade são cada vez mais seguidas e partilhadas nas redes sociais, no entanto as recomendações da OMS e da Direção-Geral da Saúde continuam firmes: o distanciamento social, a utilização de máscara e a desinfeção frequente das mãos são três pilares para a prevenção do contágio.
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