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Dia de voto antecipado: “Uma falsa segurança”

Atualizado: 20 de jan. de 2021

Decorreu este domingo, dia 17 de janeiro, o voto antecipado. Das 8h às 19h, à porta da escola Secundária Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim, foram muitos os que por lá passaram para exercer o seu direito. A decisão de votar hoje e não dia 24 passou pela necessidade de deslocação, por exemplo, ou até para evitar longas filas de espera e consequentes ajuntamentos – mas estes foram (quase) inevitáveis.

A fila para o voto antecipado na Eça de Queirós. Foto: Jornal Ângulo

Eram 11h30 da manhã quando a fila se começou a ordenar de forma a não ser possível ver o fim. Uns suspiravam, outros aproveitavam para colocar a conversa em dia. No meio de um confinamento, chegaram a estar em fila mais de 70 pessoas. Apesar de cumprido o (possível) distanciamento e todos de máscara, a verdade é que o receio pairava no ar. É o caso de Mariana Lopes, de 27 anos. Decidiu votar antecipadamente por estar a cumprir o confinamento na casa dos pais, na cidade poveira. Quando lhe é questionado se sente segura, hesita: “Mais ao menos. Não sei que comportamentos é que estão a adotar lá dentro, não sei como é que as pessoas estão a reagir. Depende. Acho que depende tudo de como as pessoas fizerem as coisas”.


O casal Joel e Sara partilham da mesma opinião. “Não era de esperar que hoje não estivesse ninguém, mas pelo menos metade das pessoas, na melhor das situações”, refere Joel Oliveira. Sara completa: “e mais organizado, também”. Porém, consideram ser “mais tranquilo” por estarem ao ar livre e as pessoas estarem a cumprir “o distanciamento social”.

Na altura, a fila ainda não ia longa. Mas quando Paula Peneda chegou com a mãe, já o perímetro da escola tinha sido percorrido. No entanto, a mulher de 45 anos, que veio “para não apanhar confusão”, acredita que “para a semana deve ser pior”.


Mário Ferreira faz-se acompanhar do filho, de 3 anos, e da mulher. Há mais de 15 minutos na fila, ainda nem o gradeamento da escola secundária haviam passado. Mas estavam confiantes que, rapidamente, a situação se contornaria. “Existe fila, sim, mas não se compara com as outras vezes. Costuma ser um caos aqui à porta da escola e está bastante pacífico. Não sei como estará lá dentro. Mas aqui fora não há motivos para preocupações”. No entanto, não espera em deixar a ressalva: “De qualquer maneira, se tivesse uma fila que nós não nos sentíssemos confortáveis, íamos embora porque podíamos votar na mesma no outro dia”.


Mas quem vem de dentro da escola, depois de votar, as opiniões já são outras.


Enquanto volta a guardar o cartão de cidadão na carteira, Joaquim Machado adianta que o funcionamento da votação antecipada “não está muito bem organizado”. Votou antes do dia 24 por necessidade, “porque depois tenho de sair, não vou estar cá”, mas admite que evitar as filas era a cereja no topo do bolo. No entanto, apanhou na mesma os aglomerados. “Está tudo no mesmo corredor. Entramos e saímos pela mesma porta. Eles têm outra porta suplente, podíamos sair por outro lado, mas não, temos de sair pelo mesmo sítio”. E remata: “eles têm condições. Não havia necessidade”.


A falta de organização é reforçada por Jorge Ramos, de 29 anos, que relata que “está uma confusão enorme lá dentro. Eu tentei evitar confusões, e acabei por apanhar na mesma”. Sobre a disposição do espaço de voto, conta que existem três salas seguidas, e por isso “não dá para perceber muito bem as filas” e “as pessoas andam ali para trás e para a frente. É uma falsa segurança”. De mãos nos bolsos, conta que só as retirou para preencher o boletim. É uma questão de segurança pessoal, “é o que se consegue”.


Por ser natural da margem sul de Lisboa mas estar a trabalhar na Póvoa, o voto antecipado foi a solução para Fernando Moreira, 32 anos. Ao descrever a situação cá fora, não poupa nas palavras. “Está completamente desorganizado e um pouco caótico”, declara, mas deixa espaço para a compreensão: “é aceitável, dada a situação, é normal que haja um pouco de caos, controlado”. Lá dentro, “é razoável, podemos dizer assim”. Mas deixa algumas sugestões para o próximo domingo. Daqui a 8 dias, a rapidez deveria ser o mote principal, “para não acumular tantas pessoas”.


Sónia Lopes, de 43 anos, concorda. Mas não põe as culpas na administração local; pensa que se trata de uma questão mais abrangente, mais geral. “Neste enquadramento da Covid, não me parecia nem me parece razoável concentrar tudo num único dia. Acho que claramente devia haver voto antecipado em vários dias, porque acho que todos estamos aqui para o mesmo”. E prevê que, durante o dia e no próximo domingo, “a concentração de pessoas vai-se massificar. A cidadã não termina sem deixar elogios à organização local, onde “as pessoas são incansáveis” e “não podiam estar a fazer algo melhor do que estão a fazer”.


E quem está nas mesas reflete este sentimento de impotência quanto a mudanças na organização. Desde as sete da manhã, Maria (nome fictício) fazia parte da equipa de uma das três mesas. Já é quase meio dia, e o seu turno terminou. Mas, logo à chegada, “já estava tudo organizado. Quando chegamos, já estavam as salas de luzes acesas e cadeiras arrumadas, já estava tudo distribuído para ser ali”.

Por isso, não puderam modificar a disposição das mesas. Mas concorda que o espaço da escola deveria ter sido mais bem aproveitado: “O liceu é imenso, tem muitos corredores, várias entradas, podiam por a entrada de um lado, a saída do outro, uma sala em cima, outra em baixo, e pessoas a orientar”. Da forma como está, a concentração é propícia a acontecer, afirma.


No fim da manhã, a fila já cobria quase todo o comprimento da rua da Eça de Queirós. Durante o dia, é de esperar que o tamanho não diminua, porque ainda há muitos votos a fazer. Só na Póvoa de Varzim, inscreveram-se no voto antecipado mais de 1400 pessoas. No próximo domingo, serão muitas mais; o desejo coletivo é que a organização mude e melhore, para prevenir ainda mais o contágio.






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