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Foto do escritorJornal Ângulo

Eleições históricas para a comunidade LGBTQI+ nos Estados Unidos e no Brasil

Nestas eleições, pelo menos 35 dos 574 candidatos LGBT+ venceram nos Estados Unidos, incluindo Sarah McBride, eleita primeira senadora estadual trans. No Brasil, as eleições municipais ocorreram este domingo, 15 de novembro, com um recorde de candidaturas de pessoas LGBT+ para os cargos de vereador e prefeito.



Fonte: Jasmin Sessler

As eleições norte-americanas ficaram para a história, em vários sentidos. Além de ter sido eleita a primeira vice-presidente mulher – e primeira mulher negra -, houve um recorde inédito de candidaturas e vitórias LGBTQI+. Foram eleitos, pelo menos, 35 dos 574 candidatos desta comunidade, incluindo os primeiros gays assumidos no Congresso e Sarah McBride, a primeira senadora estadual dos Estados Unidos que se identifica publicamente como transgénero.


Sarah McBride foi eleita senadora pelo estado de Delaware, com uma campanha focada em medidas para a saúde, igualdade de género e reforma do sistema de justiça criminal norte-americano. Derrotou, com grande diferença de votos, o candidato republicano Steve Washington: McBride ganhou cerca de 73% dos votos, de acordo com o Departamento Eleitoral do distrito.


A senadora estadual tem trinta anos e um longo histórico como ativista. Trabalhou em diversas organizações de direitos humanos no seu estado, além de ter participado em campanhas do partido Democrata, como a do ex-governador Jack Markell. Em 2013, McBride defendeu a proposta de lei de não-discriminação de identidade de género em Delaware, que foi aprovada no mesmo ano.


É possível afirmar que o triunfo já era esperado, uma vez que o estado contou com quase 70% dos votos em Hillary Clinton nas eleições de 2016, período em que McBride alcançava maior visibilidade, com um discurso na Convenção Nacional do Partido Democrata. Sarah McBride anunciou, na altura, que seria Clinton a candidata pelos Democratas às eleições presidenciais desse ano. O discurso da candidata foi considerado marcante: “Seremos uma nação em que há somente uma maneira de amar, com uma única aparência e uma única maneira de viver? Ou seremos uma nação onde todos têm a liberdade de viver aberta e igualmente, uma nação que é mais forte unida?”.


Em 2020, as palavras de Sarah McBride mostraram ser tão fortes quanto vitoriosas, na noite em que foi eleita senadora: “espero que esta noite mostre às crianças LGBTQ que a nossa democracia é grande o suficiente para elas também”.


A senadora estadual já tinha feito história antes. Sarah McBride foi a primeira pessoa que se identifica publicamente como transgénero a falar numa convenção de um grande partido e a integrar a equipa da Casa Branca, durante a administração Obama.


Mais candidatos quebram barreiras: Taylor Small em Vermont e o Congresso de Ritchie Torres e Mondaire Jones


Este ano há também momentos inéditos, como o de Ritchie Torres, primeiro afro-latino assumidamente gay, e Mondaire Jones, o primeiro negro também assumidamente gay, eleitos para o Congresso da maior economia do mundo.


Em Nova Iorque, Ritchie Torres dedica a sua vitória à comunidade na qual cresceu, no Bronx: “é a minha casa, o sítio que me fez ser quem eu sou e é por isso que lutarei no Congresso. Agradeço do fundo do coração aos eleitores a confiança que me depositaram”. A jornada de Torres é repleta de marcos: em 2013, ele foi o primeiro candidato assumidamente gay a ser eleito para um cargo legislativo no Bronx. Em novembro deste ano, venceu as eleições gerais e assumirá o cargo em janeiro de 2021.


Já Mondaire Jones, candidato de 33 anos e também democrata, pode partilhar o mesmo feito. Teve uma disputa bastante cerrada com Maureen Shulman, do partido republicano, mas foi eleito pelo 17º distrito congressional de Nova Iorque.


No Twitter, disse estar grato pela oportunidade de servir a comunidade que o criou, “a comunidade que acaba de colocar no Congresso um negro abertamente gay que cresceu numa casa de Section 8 [habitação com apoio a famílias de baixo rendimento], dependendo de assistência alimentar”.

Em Vermont, Taylor Small, de 26 anos, foi eleita a primeira deputada transgénero do estado. No Twitter, comemorou: “Quinta legisladora trans do país!”. A vitória ocorre três anos depois de Danica Roem, democrata, tornar-se a primeira legisladora abertamente trans dos Estados Unidos, pela assembleia da Virgínia.

Passos históricos também nas eleições do Brasil

No dia 15 de novembro, domingo, o Brasil também passou por um processo eleitoral. Neste caso, foram eleições municipais – ou seja, os eleitores brasileiros votaram para os cargos de prefeito e vereador, respetivamente, o poder Executivo e Legislativo das suas cidades. Apesar de ter altos índices de violência contra a comunidade LGBTQI+, em 2020, o Brasil bateu o recorde de candidaturas de pessoas trans: totalizou o triplo de candidaturas em comparação há quatro anos.


Foram mais de 270 candidaturas de pessoas trans, de diversos naipes – da esquerda à direita políticas. Para relembrar, em 2016, havia 89 pessoas transgénero a concorrer. Em várias cidades, como Curitiba (no estado do Paraná), registaram-se marcos históricos: foi a primeira vez em que uma mulher transgénero se candidatou ao cargo de prefeito – o que se equipara a presidente do concelho em Portugal. Letícia Lanz, candidata pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e a única transgénera que disputou a prefeitura numa das capitais de estado brasileiras, encabeçou uma lista totalmente feminina, tendo a advogada Giana de Marco como candidata à vice-presidência.


Dados disponibilizados pelo website Congresso em Foco apontam que foram eleitos, pelo menos, 25 vereadores LGBTQI+, bem como a primeira vitória trans na câmara municipal de Aracaju: Linda Brasil, do partido PSOL, foi a mais votada na capital de Sergipe. Foram também os casos de Duda Salabert (Partido Democrático Trabalhista), vereadora em Belo Horizonte, Benny Briolli (PSOL), em Niterói, Rio de Janeiro, Lins Roballo (Partido dos Trabalhadores), em São Borja, e Regininha, do mesmo partido e também do Rio Grande do Sul, em Rio Grande – todas mulheres trans.



Linda Brasil em fotografia de Hiel Gomes

Estas também foram as primeiras eleições municipais brasileiras em que candidatas e candidatos transgénero tiveram a possibilidade de optar pelo nome social nas urnas, de acordo com regulamentação aprovada há dois anos. De outra forma, os eleitores poderiam não ter reconhecido o nome exposto ao lado da foto do seu candidato. A mudança fazia parte de reivindicações antigas por vários movimentos sociais. De acordo com o El País, pelo menos 165 dos candidatos optaram pelos nomes sociais em vez dos nomes civis, no ato eleitoral de 2020.

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