Sem diálogo, uns rabiscos no papel e uma banda sonora de músicas maioritariamente desconhecidas – “If anything happens I love you” é o novo filme da Netflix com apenas 12 minutos, mas com uma mensagem demasiado forte para ser processada neste intervalo de tempo.
Neste momento, tudo o que ecoa na minha cabeça são os sons das balas e da sirene ao fundo e um coração muito, muito apertado. Em “If anything happens I love you” é feita uma exposição curta mas muito forte dos tiroteios escolares, infelizmente atuais. Neste caso, acompanha-se a história de um casal e o processo de luto pela filha de apenas 10 anos que morreu num destes incidentes. Se não forem às lágrimas, não se considerem humanos.
Ao início, a história parece um bocado indecifrável. Percebemos que algo se passa entre o casal, que discutiram – por momentos cheguei mesmo a pensar que se tratava de um filme sobre violência doméstica. Até ao momento do clique, quando a personagem feminina pega na camisola azul, pequena, saída da máquina de lavar. Aí, instantaneamente percebemos que se trata da perda de um filho – agora, a forma da perda é que supera surpreendentemente qualquer expectativa.
A seguir, é-nos apresentado em câmara rápida e em pequenos frames o percurso dolorosamente pequeno de vida do filho, neste caso, da filha. Um percurso normal, que explica uma catrefada de elementos emocionais que já apareceram anteriormente na história e que foram importantes para o seu desenrolar, como a camisola, a bola e a tinta azul na parede.
O problema vem, e aí controlem os corações moles, quando toca a sirene e se ouvem as primeiras balas a ser disparadas, num fundo preto, seco, vazio. Aí tudo encaixa – a morte prematura de uma criança num tiroteio escolar. E como se já não fosse suficiente, arrasta o momento do envio da mensagem da filha para os pais – “If anything happens I love you”.
Este é um filme importante, urgente. Todas as particularidades constroem o filme, a mensagem final. Apesar de ter apenas 12 minutos, parece que acompanhámos o processo de luto do casal, excelentemente representado através das figuras de emoções que estão presentes no desenrolar da história, até ao momento final em que voltam a ver a cara da menina no sol, num símbolo de esperança e de paz.
Trailer do filme
Atualmente, o filme encontra-se em nº5 em Portugal e eu espero que chegue bem mais longe. Apesar de não ser uma realidade aqui, é algo que ouvimos com uma revoltante recorrência e que não nos deixa de fazer simpatizar com tamanho desespero. Gostaria, talvez, de ter tido um pouco mais de desenvolvimento na parte do tiroteio – seria este uma representação geral deste tipo de casos ou aborda algum em específico? Mas, para ser honesta, tenho medo que um aumento, nem que fosse de um minuto, tirasse o impacto tão bem conseguido em apenas 12 minutos, num tema de tão difícil abordagem.
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