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  • Foto do escritorAna Craveiro Faria

Cidadania, precisa-se


Getty Images

O desenvolvimento saudável do cérebro humano, na infância e adolescência, é vital para a criação e existência de indivíduos responsáveis, bem inseridos na sociedade e com um senso de moralidade e tolerância. A escola surge como uma ferramenta para atingir esse fim: ao frequentarem a escola, os adultos de amanhã alargam os seus horizontes, conhecem mais pessoas, saem da bolha de conhecimentos, realidade e dogmas que existe em cada casa e agregado familiar. Aprendem, no fundo, a ser pessoas: independência, pensamento crítico, autonomia, são conceitos trabalhados no ensino fundamental.


Por essa razão, a disciplina de Educação para a Cidadania é um módulo que, na minha opinião, é imperativo lecionar. A escola não pode ser só Matemática, Português ou História; a capacidade de ser humano num mundo intercultural e completamente dinâmico e pluralista é algo que se deve aprender também.


Desde cedo que ouvimos queixas de que a escola devia ensinar conhecimentos reais, que serão postos em prática no futuro. Sim, porque a pessoa comum não utiliza o Teorema de Pitágoras todos os dias. Mas o que é certo é que a pessoa comum pratica a cidadania todos os dias, ou pelo menos gosto de pensar que sim. Por isso, porquê tanto debate?


Para tentar compreender o argumento de que a disciplina de Cidadania é uma lavagem cerebral para as nossas crianças, li e analisei o programa. Os temas abordados na disciplina são os seguintes, segundo o portal da Direção-Geral da Educação: Educação Rodoviária, para o Desenvolvimento, para a Igualdade de Género, para os Direitos Humanos, Financeira, para a segurança e Defesa Nacional, promoção do Voluntariado, Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, Dimensão Europeia da Educação, Educação para os Media, para a Saúde e a Sexualidade, para o Empreendedorismo, do Consumidor, e Intercultural.


Honestamente, depois de ler todas as dimensões da disciplina, a minha única preocupação é que as crianças saíam da disciplina demasiado educadas, porque ainda gosto de pensar que sou mais inteligente que uma criança de 10 anos. Qualquer dos módulos me parece completamente legítimo: como será um futuro, sendo que a palavra ‘futuro’ e a sua viabilidade são conceitos cada vez mais importantes, sem pessoas capazes de argumentar, de entender o que se passa, de tirar as palas e passar a ver a 360º?


Num mundo cada vez mais incerto, cada vez mais inclusivo mas ao mesmo tempo cada vez mais conservador, é necessário educar para a tolerância, ensinar o que se passa, fazer entender que a realidade que cada um vive não é aplicável a todos.


Se a disciplina de Educação para a Cidadania passar a obsoleta, a educação para a cidadania tem de vir de algum outro lado. Mas um fator importante: deve ser tão completa como a preparada pela DGE ou, pelo menos, o mais completa possível. Todos os temas se veem importantes para o desenvolvimento informado, saudável, tolerante e crítico necessário para um adulto no século XXI.


Concluindo, quero só deixar claro que não vai ser uma disciplina que ensine as crianças que todos os géneros são iguais e devem ser tratados como tal, ou que há pessoas que gostam de pessoas do mesmo sexo, ou que não se identificam com o género atribuído à nascença, ou até que devemos diminuir o consumo de plástico, que vai determinar se elas estão “corrompidas” por uma sociedade inclusiva e que “influencia” os seus estilos de vida. No máximo, as crianças vão aprender que é legítimo e natural não se encaixarem com os padrões que lhes são ensinados em casa ou em qualquer outro sítio.


A tolerância é uma virtude, que se poderá perder no futuro se privarmos as nossas crianças dessa aprendizagem.

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